2017-11-27 20:00:00
<p><img title="Em Porto Alegre, ato ocorreu na Câmara Municipal, no dia 25/11." src="/upload/misc/image/ad840734f42ba49e88f1bd5982296799.jpg" alt="Em Porto Alegre, ato ocorreu na Câmara Municipal, no dia 25/11." width="660" height="440" /></p>
<p>O governo de Michel Temer (PMDB) pretende mudar o estatuto da Caixa Econômica Federal para transformá-la em uma Sociedade Anônima (S.A.), um modelo no qual o capital do banco é dividido e as ações são vendidas a entes privados. Ao mesmo tempo, entidades que defendem o caráter público do banco vêm denunciando as consequências da decisão governamental – sobretudo porque o interesse de acionistas irá se sobrepor à função social que é cumprida hoje. Debater essas questões é o objetivo da campanha “Caixa do Povo e 100% Pública” da Associação do Pessoal da Caixa Econômica Federal – APCEF/RS. Dois atos foram realizados nos últimos dias, nas câmaras municipais de Porto Alegre, no último sábado (25) e de Santo Ângelo, nas Missões, na quinta-feira (23).</p>
<p>“É o banco que mais investe em projetos de construção de moradias populares, incentivo ao esporte, apoio à cultura, financiamento da educação, apoio às micro e pequenas empresas, oferta de crédito de curto e longo prazo, investimento em saneamento básico e infraestrutura, além da bancarização”, resumiu o vice-presidente da Associação, Marcos Todt, no ato da Capital. O modelo das instituições privadas do mercado financeiro, para ele, não serve para a Caixa. “Se alguém tem que ser modelo, a Caixa é que deve servir de referência”, defende. Ainda assim, o banco vem amargando com as decisões de, por exemplo, privatização da Lotex, fatiamento de áreas como habitação, cartões e gestão do FGTS, além da ausência de contratações, dos planos de demissão voluntária e do fechamento de agências.</p>
<p><img title="Em Santo Ângelo, presentes assinaram carta solicitando moção de apoio à Câmara Municipal." src="/upload/misc/image/96fb475b2f90ab02182c58e3eff5ed3b.jpg" alt="Em Santo Ângelo, presentes assinaram carta solicitando moção de apoio à Câmara Municipal." width="660" height="440" /></p>
<p>Em Santo Ângelo, o ato reuniu dezenas de bancárias/os no plenário da Câmara dos Vereadores da cidade. O dirigente do Sindicato dos Bancários no município, Mauro José Mânica, e a coordenadora da Regional Missões da APCEF, Débora Regina da Silva, fizeram parte da mesa de debate, além de Todt. Uma moção de apoio à campanha foi solicitada em uma carta assinada pelos presentes. Foi feita ampla divulgação na cidade, com divulgação em outdoors e rádio. Além disso, o vice-presidente da APCEF foi convidado para duas entrevistas na Rádio Santo Ângelo, nas quais teve oportunidade de expressar os perigos da transformação da Caixa em S/A.</p>
<p>Do evento em Porto Alegre participaram bancários/as de diversas cidades, como Pelotas, Cachoeira do Sul, Santa Maria, Novo Hamburgo, Montenegro, Giruá, Três Passos, Cachoeirinha, Tramandaí, Osório e Porto Alegre. Além de Todt, participaram da mesa o presidente da APCEF, Marcello Carrión, que mediou o debate, o funcionário do Banco do Brasil e ex-dirigente da Federação dos Bancários do Rio Grande do Sul (Fetrafi/RS), Ronaldo Zeni, a dirigente da Fetrafi/RS e trabalhadora do Banrisul, Denise Correa, além do vereador Alex Fraga (PSOL) – que foi quem solicitou o espaço ao Legislativo – e o deputado estadual Pedro Ruas, do mesmo partido. As/os deputadas/os estaduais Manuela D\'Ávila (PCdoB), Juliano Roso (PCdoB) e Valdeci Oliveira (PT) enviaram representações ao ato. A APCEF enviou convite a todos os/as deputados/as estaduais e federais do Rio Grande do Sul e a todos os vereadores/as de Porto Alegre, todavia.</p>
<p>É preciso, para Todt, uma disputa e um debate sobre manter o perfil público do banco, dentro da empresa – não permitir que se crie uma cultura interna de que o banco deve seguir outro modelo – e para fora, na sociedade. Além do fomento à economia local, priorizando setores mais frágeis, a existência de um banco público é evidente também no amortecimento das crises financeiras internacionais, através de ações anticíclicas.<br /><br />A despeito disso, argumenta Todt, os números mostram o contrário do que se poderia esperar: um relatório anual da Febraban mostra que enquanto os bancos privados com controle estrangeiro mais do que triplicaram, no Brasil, de 1990 até 2014, o número de bancos públicos brasileiros, estaduais ou federais, decresceu mais de 70% no mesmo período. Nem as instituições privadas nacionais escaparam: desde 1990 o número de instituições caiu para menos da metade. “O debate que precisamos fazer, e está caindo de maduro, é a quem interessa um sistema controlado por instituições bancárias privadas sem regulação ou responsabilização com o desenvolvimento do país. É um debate inclusive sobre a soberania nacional”, defendeu.<br /><br />Mesmo durante a recessão pela qual passa o Brasil, o lucro dos bancos não para de crescer. Apenas no primeiro semestre de 2017, o Itaú lucrou mais de 12 bilhões de reais; o Bradesco, mais de 9 bi. “A Caixa, por sua vez, contribui com mais de 4 bilhões para o tesouro, um lucro muito mais baixo, mas que não se pode comparar no sentido da importância sobre o que se faz para o país em comparação ao que qualquer outro banco privado faz. Mesmo com uma série de serviços que não dão lucro, mas ajudam concretamente na vida das pessoas”, argumentou.<br /><br />Ao mesmo tempo, o Itaú Unibanco, entre março de 2014 e junho de 2017, fechou 391 agências bancárias pelo país; o Bradesco, em um ano, teve 269 fechadas.</p>
<p><img title="Ato em Porto Alegre." src="/upload/misc/image/59bba7d257531124e1d98c0e41a95d5b.jpg" alt="Ato em Porto Alegre." width="660" height="440" /></p>
<p>A questão de fundo, disse Todt, é que a abertura de capital tem por consequência a valoração dos interesses de curto prazo de acionistas privados, que precisarão ser considerados nas decisões da instituição. Políticas de interesse público – que muitas vezes não geram o mesmo lucro que se espera de uma instituição financeira. “Isso é evidente: acionistas vão exigir que a Caixa deixe de atender todo o rol de serviços fundamentais prestados pelo banco”, resume Todt.<br /><br />Para Ronaldo Zeni, o que se prevê como efeitos da abertura de capital da Caixa já foi vivenciado pelo Banco do Brasil – instituição que é inclusive citada como modelo pelo governo federal no que se pretende para a Caixa. “O BB já passou por essa fase – de antes ser uma instituição estatal e, depois, voltada para o mercado. Hoje, o banco tem atuação e visão de banco privado; com a nova diretoria sequer tem função de banco público respeitada”, alertou.<br /><br />Exemplos como taxas e seleção de crédito – “excluindo a população que depende do banco, trabalhando com a camada dos 15% mais ricos que têm condições de financiamento” – funcionam para ilustrar o que está em jogo.<br /><br />Além disso, Zeni diz que agências de atendimento físico vão ser reduzidas a menos da metade do que há hoje. “Fala-se em uma leva de fechamento de agências a partir de janeiro do ano que vem”, diz, citando ainda os riscos da possibilidade terceirização das atividades-fim no banco – até mesmo com o serviço de caixas. “Esqueçam concurso, estabilidade na carreira. Isso não é mais o horizonte do Banco do Brasil”. Trata-se, para ele, de um processo de privatização que caminha a passos largos. “Não temos outro caminho que não lutar”, apela.</p>
<p>No Banrisul, afirmou Denise Correa, “estamos na mesma toada”. “É um dos últimos cinco bancos que conseguimos salvar da onda de privatizações dos anos 90. À época, o governo Britto não conseguiu fazê-lo. Seu líder de governo era o Sartori”, ilustrou.</p>
<p><img title="Ato em Santo Ângelo." src="/upload/misc/image/f3be24d27ea3658e513ae60b3aa4f263.jpg" alt="Ato em Santo Ângelo." width="660" height="440" /></p>
<p> Para ela, a recente decisão do governo Sartori de vender mais ações do banco é um erro que “até os analistas de direita” reconhecem como o “pior negócio do sistema financeiro” atualmente. “E não vai dar nem para pagar mais do que uma folha e o décimo terceiro. Só nos cabe contrapor”, protesta.</p>
<p>Para o vereador Alex Fraga, \"a grande tarefa é cobrar de quem tem mandato, de quem é figura pública, de quem tem direção, de que se engaje. Fazer pressão na Assembleia, no Congresso, em frente aos palácios do governo”. Pedro Ruas, por sua vez, também abordou a necessidade de mobilização de trabalhadoras e trabalhadores da Caixa, do Banrisul, do Banco do Brasil e de órgãos públicos que estão “na mira de governos privatistas, neoliberais e entreguistas”.</p>
<p>Além dos debates de Porto Alegre e Santo Ângelo, na última semana, a APCEF também participou de eventos em Uruguaiana e Erechim – onde, no último caso, aprovou-se na Câmara uma moção de apoio ao caráter público da Caixa que será enviado ao Ministério da Fazenda e à Presidência da República. O próximo evento ocorrerá dia 14 de dezembro, na Câmara de Vereadores de Tramandaí.</p>
<p>[Fotografias: Jéssica Sobreira]<br /><br /><img title="Ato em Porto Alegre." src="/upload/misc/image/b042edca0795bf21912a12974edf58c0.jpg" alt="Ato em Porto Alegre." width="660" height="440" /></p>
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