L�der A discute seguran�a p�blica: �ser� o assunto do ano e dominar� a agenda de debates no Brasil� 

2018-03-25 18:21:00

<p><img title=" Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (PUC-RS)" src="/upload/misc/image/94adc64a5a85139e7ea799538c00d41e.jpg" alt="Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (PUC-RS)" /></p>
<p>A cita&ccedil;&atilde;o que d&aacute; t&iacute;tulo a este artigo &eacute; do professor e pesquisador Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo (PUC-RS). Ele, que &eacute; especialista em An&aacute;lise Social da Viol&ecirc;ncia e Seguran&ccedil;a P&uacute;blica e membro do F&oacute;rum Brasileiro de Seguran&ccedil;a P&uacute;blica, participou na manh&atilde; do s&aacute;bado passado (24) do primeiro encontro do L&iacute;der A &ndash; um curso de forma&ccedil;&atilde;o de lideran&ccedil;as promovido pela APCEF-RS &ndash; de 2018.</p>
<p>Deixada de lado a tramita&ccedil;&atilde;o da Reforma Previd&ecirc;ncia, muito provavelmente pelo temor do governo de Michel Temer (MDB) de que a proposta n&atilde;o vingasse, o tema da viol&ecirc;ncia emergiu como central no cen&aacute;rio pol&iacute;tico brasileiro. Em um pa&iacute;s cujas for&ccedil;as armadas foram chamadas a intervir no estado que tem como capital a cidade mais emblem&aacute;tica internacionalmente &ndash; o Rio de Janeiro &ndash; e mobilizado pela execu&ccedil;&atilde;o de uma vereadora negra, perif&eacute;rica e ativista pelos direitos humanos no mesmo local, diz Ghiringhelli, o assunto dominar&aacute; a disputa eleitoral de outubro. N&atilde;o &agrave; toa: o assassinato de Marielle Franco, no dia 14 de mar&ccedil;o, foi o assunto mais comentado nas redes sociais desde sempre no Brasil, mais do que o impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, ou os protestos contra a ex-presidenta, em 2015, ou mesmo em rela&ccedil;&atilde;o &agrave;s jornadas de protestos que eclodiram no em junho de 2013.</p>
<p>&ldquo;J&aacute; tivemos momentos melhores&rdquo;, afirmou o palestrante. A um p&uacute;blico que lotou o sal&atilde;o de eventos da col&ocirc;nia da APCEF/RS em Tramanda&iacute;, no Litoral Norte, ele contextualizou e analisou o fen&ocirc;meno da viol&ecirc;ncia no Brasil. O pa&iacute;s &eacute;, hoje, um local de n&uacute;meros superlativos em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; inseguran&ccedil;a: tem 12% dos homic&iacute;dios do planeta &ndash; cerca de 60 mil ao ano &ndash;, sobretudo de jovens, homens, negros ou pardos e moradores das periferias das grandes e m&eacute;dias cidades. Na Am&eacute;rica Latina, o continente mais violento do mundo, s&oacute; temos taxas de homic&iacute;dios menores do que pa&iacute;ses como o M&eacute;xico, a Col&ocirc;mbia, a Venezuela ou Honduras. E, desde 1980, quando as taxas de homic&iacute;dios passaram a ser medidas atrav&eacute;s da mesma metodologia que &eacute; usada hoje, o n&uacute;mero passou de cerca de 11 assassinatos a cada 100 mil habitantes para a casa dos 29 &ndash; quase tr&ecirc;s vezes. O encarceramento &ndash; isto &eacute;, a parcela da popula&ccedil;&atilde;o que se encontra em uma pris&atilde;o &ndash;, ao mesmo tempo, &eacute; o terceiro maior do mundo, e agravado pelo fato de que &ldquo;quase metade dos presos do pa&iacute;s &eacute; provis&oacute;rio&rdquo;, afirma Ghiringhelli.</p>
<p><img title="L&iacute;der A 2018" src="/upload/misc/image/1530e2b5bed73035dc262f5138ab063f.jpg" alt="L&iacute;der A 2018" /></p>
<p>&ldquo;&Eacute; uma bomba rel&oacute;gio deixada pela ditadura&rdquo;, contextualizou o professor. Apesar do saudosismo de boa parte da popula&ccedil;&atilde;o em rela&ccedil;&atilde;o &agrave; alegada seguran&ccedil;a nas cidades brasileiras do per&iacute;odo ditatorial (1964-1985), o palestrante diz que os grandes cintur&otilde;es de mis&eacute;ria nas metr&oacute;poles do Brasil se criou no per&iacute;odo &ndash; e foi nesses locais que a viol&ecirc;ncia se instala e domina a popula&ccedil;&atilde;o. Se em 1964 o pa&iacute;s tinha 70% da popula&ccedil;&atilde;o no campo, em 1980 o contexto havia se alterado: 80% dos brasileiros j&aacute; viviam em ciadades. &Eacute; o que pesquisadores/as chamam de &ldquo;moderniza&ccedil;&atilde;o conservadora&rdquo;.</p>
<p>Dos anos 80, as taxas de homic&iacute;dios, que em geral representam um panorama geral da criminalidade violenta, seguiram crescendo com for&ccedil;a at&eacute; o come&ccedil;o dos anos 2000, com breves per&iacute;dos de redu&ccedil;&atilde;o. O n&uacute;mero de 1980, todavia, j&aacute; era alto se comparado ao de outros pa&iacute;ses &ndash; o que desmistifica a ideia de se poder &ldquo;andar pela rua com tranquilidade&rdquo; durante a ditadura militar. De 2000 para c&aacute;, todavia, atingiu um certo equil&iacute;brio: chegou ao m&iacute;nimo do per&iacute;odo em 2007, com 25,2/100 mil, at&eacute; os quase 29 dos anos mais recentes. Curiosamente, um dos fatores para evitar a continuidade da subida, explica Ghiringhelli, &eacute; a Lei do Desarmamento, uma das legisla&ccedil;&otilde;es mais atacadas por integrantes de movimentos de &ldquo;lei e ordem&rdquo;. Se os &iacute;ndices subissem com a mesma velocidade das d&eacute;cadas de 80 e 90, provavelmente ser&iacute;amos um pa&iacute;s duas vezes mais violento hoje, com taxas pr&oacute;ximas da Col&ocirc;mbia em suas piores &eacute;pocas.</p>
<p>S&atilde;o, para o pesquisador, quest&otilde;es estruturais. Envolvem desde o baixo controle do Estado brasileiro sobre a atividade policial, que deveria ser mais planejada, por exemplo, at&eacute; uma investiga&ccedil;&atilde;o criminal lenta, burocr&aacute;tica, seletiva e com baixo teor de resolu&ccedil;&atilde;o. Entre os fatores, est&atilde;o um sistema prisional dominado por fac&ccedil;&otilde;es, uma cultura de masculinidade violenta e da quase aus&ecirc;ncia de pol&iacute;ticas de preven&ccedil;&atilde;o operada por governos estaduais, municipais, e pela administra&ccedil;&atilde;o federal.</p>
<p>Jovens, no Brasil, morrem cada vez mais cedo: o pico do n&uacute;mero de v&iacute;timas se d&aacute; aos 20 anos de idade, e vem diminuindo. Num pa&iacute;s de grandes dimens&otilde;es e contextos, exemplifica Ghiringhelli, a mesma pol&iacute;tica tem resultados diferentes em cada regi&atilde;o do pa&iacute;s. Entre os Estados que puderam reduzir seus &iacute;ndices de viol&ecirc;ncia, h&aacute; uma ampla gama de vari&aacute;veis: Pernambuco teve seu &ldquo;pacto pela paz&rdquo; e foi a &uacute;nica unidade federativa no Nordeste a reduzir seus crimes violentos. S&atilde;o Paulo e Rio, outrora s&iacute;mbolos da fal&ecirc;ncia das pol&iacute;ticas de seguran&ccedil;a p&uacute;blica, tiveram tamb&eacute;m redu&ccedil;&otilde;es no n&uacute;mero de homic&iacute;dios, mas por raz&otilde;es distintas &ndash; em S&atilde;o Paulo pode-se colocar o &ldquo;monop&oacute;lio de mercado&rdquo; do PCC na conta da pacifica&ccedil;&atilde;o mais acentuada do pa&iacute;s, enquanto no Rio as UPPs tiveram relativo sucesso &ndash; pelo menos enquanto duraram.</p>
<p>&ldquo;A sociedade est&aacute; pouco preparada para cobrar solu&ccedil;&otilde;es. Ao inv&eacute;s, cobra uma puni&ccedil;&atilde;o com mais sofrimento&rdquo;, avalia o professor. O debate &ndash; com constantes interven&ccedil;&otilde;es e questionamentos por parte de associados/as &ndash; abordou tamb&eacute;m o fen&ocirc;meno das &ldquo;fake news&rdquo;, como as correntes virtuais com informa&ccedil;&otilde;es falsas sobre o aux&iacute;lio reclus&atilde;o, por exemplo.</p>
<p>O punitivismo arraigado na sociedade brasileira, diz Ghiringhelli, antes de tudo, n&atilde;o funciona. Ele elenca uma s&eacute;rie de medidas que poderiam contribuir com a redu&ccedil;&atilde;o da criminalidade violenta. Repress&atilde;o qualificada, integra&ccedil;&atilde;o entre as esferas de governo, assim como de pol&iacute;cias, institui&ccedil;&otilde;es de justi&ccedil;a e a sociedade civil, al&eacute;m de pol&iacute;ticas que extrapolem o tempo de cada gest&atilde;o, por exemplo, implicam em resultados positivos e mais breves. Ocorre o contr&aacute;rio: &ldquo;no pa&iacute;s, ap&oacute;s o impeachment de Dilma Rousseff, o golpista Michel Temer ao assumir nomeia para Alexandre de Moraes para o Minist&eacute;rio da Justi&ccedil;a. Ele, ao chegar l&aacute;, diz: 'o que a gente precisa no Brasil &eacute; de menos pesquisa e mais armas'&rdquo;.</p>
<p>As atividades do L&iacute;der A seguiram durante a tarde, e voc&ecirc; pode conhec&ecirc;-las pelo site da APCEF/RS. Esta &eacute; a terceira edi&ccedil;&atilde;o do curso, que acontece desde 2016 e tem quatro encontros por ano.</p>
<p><img title="L&iacute;der A 2018" src="/upload/misc/image/87cb6d4d0c5795d6c3a8615417edaf8e.jpg" alt="L&iacute;der A 2018" width="660" height="439" /></p>

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