Juremir Machado da Silva debate, no LíderA, perspectivas para a democracia brasileira nos próximos anos
 

2018-12-01 19:58:00

Com a presença do jornalista, professor e escritor Juremir Machado da Silva começou o terceiro encontro do Líder A deste ano, no sábado (01), na colônia da entidade em Tramandaí. Chamado para debater os desafios para a democracia brasileira a partir de 2019, Juremir, que prefaciou o livro Em Defesa do Bem Comum, falou para representantes da Associação nas Unidades Caixa, além de integrantes da Diretoria Executiva, das Coordenações Regionais e do Conselho Deliberativo da APCEF.

Ele, que já havia participado de um dos encontros do projeto de formação de lideranças da APCEF/RS em 2016, caracteriza a sociedade brasileira como tendendo a uma “democracia securitária iliberal”. O conceito, criado pelo filósofo francês Gilles Lipovetsky, inicialmente para descrever o contexto político dos Estados Unidos à época da eleição de Donald Trump, tem paralelos em um Brasil dominado pelo medo do medo, tanto dos problemas decorretes da violência das cidades brasileiras quanto de questões relacionadas aos costumes. “Por toda parte essa categoria se dissemina”, diz Juremir. A partir daí, as pessoas podem aceitar mais facilmente as restrições à liberdade.

LíderA 2018

“Isso pode explicar um pouco a eleição de Bolsonaro”, interpreta. Juremir cita o polonês Zigmunt Baumann (1925-2017), que caracterizava a humanidade como “sempre às voltas com o confronto entre segurança e liberdade – e, neste contexto, a sociedade brasileira parece ter optado pela primeira possibilidade: se há alguns anos, para ganhar uma eleição, era necessário mostrar-se mais apto a atacar a pobreza e a desigualdade, hoje é preciso oferecer símbolos de defesa e seguridade, com soluções conservadoras.

A tendência, portanto, é de endurecimento em relação a muitos temas, da política de drogas aos currículos escolares. “O Osmar Terra [político do MDB escolhido por Bolsonaro para ocupar o cargo de Ministro da Cidadania], em uma entrevista recente, garantiu-nos que haveria aumento da repressao ao consumo de drogas, por exemplo”, ao mesmo tempo em que iniciativas como os projetos “Escola Sem Partido” avançam na sociedade. “A primeira questão que está em jogo, nesse caso, é a liberdade de cátedra de professores. Quem dá aula de ciências poderá, em sala de aula, defender a Teoria da Evolução de Charles Darwin?”, questiona.

Paralelamente, nas questões econômicas, trata-se de um governo que terá uma condução ultraliberal na economia. Juremir diz que possivelmente, entre as ideias de Paulo Guedes (futuro Ministro da Economia), está a privatização da Caixa. A questão é que há setores do novo governo que não estão de acordo com a proposta: “O ditador de estimação do Bolsonaro é o Ernesto Geisel, um estatista na economia, enquanto o de Guedes é Augusto Pinochet, um ditador que abriu o Chile ao mercado internacional”, ilustra.

Aí está, para o jornalista, uma das possibilidades de esvaziamento do apoio popular a Bolsonaro. “O que as pessoas que votaram em Bolsonaro vão pensar quando ele propuser uma reforma na Previdência? E isso vai acontecer provavelmente em 2019”. A idealização popular a respeito do novo presidente pode, a partir daí, ser derrubada.

Também é preciso, de acordo com Juremir, que a esquerda reconheça seu papel nesta conjuntura – o que não implica necessariamente em assumir uma condição de culpada, mas na reflexão sobre sua própria reconstrução. E será preciso, para ele, mostrar à população que há elementos sólidos de renovação, ou mesmo da apresentação de novas lideranças, com uma mobilização que não seja “partidarizada ou sectarizada”. Para responder às tentações do futuro governo – como a venda de ativos, o desmantelamento da proteção social e a implantação de mecanismos de censura –, Juremir diz que é preciso ocupar as ruas com grupos mais amplos do que os que já costumam ocupá-las.

LíderA 2018

Novamente, o LíderA foi uma oportunidade de diálogo entre associadas e associados com intelectuais importantes em vários campos. Após a fala inicial, Juremir respondeu às perguntas e debateu com o público. “Pretendemos que seja uma política permantente da entidade”, pontuou o diretor de Formação para o Bem Comum da APCEF, Marcos Todt, na abertura do evento. “A gente considera, na Diretoria Executiva, esta atividade como estratégica para pensar tanto a conjuntura quanto as ações da própria Associação. Faz bem para a APCEF e nos torna melhores e mais preparados”.

LíderA 2018

Trata-se do terceiro e último encontro do LíderA neste ano. A atividade seguiu durante a tarde, com a discussão de temas relativos à Associação e à categoria. Você pode saber mais, em breve, no site da APCEF, sobre o evento.

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