2019-02-05 17:20:00
<p>A ruptura da barragem da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, durou somente alguns segundos! Segue crescendo o número de vítimas fatais do crime ocorrido na sexta-feira, dia 25 de janeiro. Uma barragem se rompeu, liberando cerca de 13 milhões de metros cúbicos de rejeito de minérios na bacia do rio Paraopeba, que banha a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Para além do desastre ambiental – cujas consequências podem ser ainda maiores que o que se pode perceber até agora, já que o rio é um dos afluentes do São Francisco –, trata-se do mais grave acidente de trabalho já registrado na história do país, até agora com 134 mortos/as e 199 desaparecidos/as, de acordo com os últimos dados divulgados até esta terça-feira (5). As imagens da tragédia mostram que a Vale está causando danos irreparáveis ao ecossistema e à sociedade.<br /><br />A Vale, como se sabe, é reincidente: há quase quatro anos, a barragem de rejeitos de Fundão, localizada no município de Mariana, também em Minas Gerais, rompia-se, provocando a maior catástrofe ambiental brasileira. Foram afetadas 230 cidades mineiras e capixabas, e, embora o número de vítimas fatais tenha sido consideravelmente menor, biólogos consideram que o Rio Doce e sua bacia, afetados pelas substâncias tóxicas do rejeito, devem levar no mínimo cem anos para estarem despoluídos. A barragem era controlada pela Samarco Mineração S.A., um empreendimento conjunto das maiores empresas mineradoras do mundo, como Vale e a anglo-australiana BHP Billiton.</p>
<p><img title="Arnaldo Luiz Dutra" src="http://apcefrs.org.br/web/upload/misc/image/05c4a1b6b32d81f303865d7ad7251744.jpg" alt="Arnaldo Luiz Dutra" /><br /><br />Com duas grandes tragédias em sua história recente, a Vale era uma grande estatal brasileira conhecida como "Vale do Rio Doce", até 1997 – ano em que foi vendida em circunstâncias questionáveis durante o auge da política privatista do governo de Fernando Henrique Cardoso. Naquela época, a Caixa Econômica Federal também estava no alvo das privatizações, mas não tiveram tempo de concretizar a destruição do banco público. Agora, o projeto de desmonte da Caixa está andamento novamente, depois de muitos anos de crescimento e de prestação de serviços ao povo brasileiro. Como o objetivo de defender a Caixa 100% Pública, foi realizada em 2018 a Oficina de Criação Literária com Alcy Cheuiche e <a href="http://www.apcefrs.org.br/noticias/article/1366392150" target="_blank">publicado pela APCEF/RS o livro A CAIXA É DO POVO!</a>.<br /><br /><strong><a href="http://apcefrs.org.br/web/upload/misc/file/73cb3a81d56a4973ba2d49dd92e140e9." target="_blank">"DOU-LHE UMA, VENDIDO!", conto do escritor Arnaldo Luiz Dutra, um dos autores do livro, retrata muito bem a cena do leilão da Vale do Rio Doce na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro. Vale a pena ler! </a></strong><br /><br />Além da história da Caixa e de seu valor social para o país, a obra trata de casos absurdos do passado recente, nos quais o patrimônio nacional foi entregue à iniciativa privada.<a href="http://www.apcefrs.org.br/noticias/article/1366392157" target="_blank"> Para saber mais, o livro está disponível, por R$ 10, aqui</a>.</p>
<p><img title="Capa do livro" src="http://apcefrs.org.br/web/upload/misc/image/c58c7581c56daba2e6a6c892836dadfe.jpg" alt="Capa do livro" width="532" height="800" /><br /><br />O conto de Arnaldo foi inspirado no livro "A Privataria Tucana", do jornalista Amaury Ribeiro Jr (<a href="https://privatariatucanaolivro2.files.wordpress.com/2011/12/a_privataria_tucana_-_amaury_ribeiro_jr1.pdf" target="_blank">você pode baixá-lo gratuitamente aqui</a>). "Leitura imprescindível para quem luta contra a dilapidação do patrimônio público. Vivi a era FHC e sua máxima de governo: 'vender tudo que der para vender'. Fui testemunha do sorriso caricatural de José Serra [Ministro do Planejamento à época] e do seu famigerado martelo, descendo ferozmente sobre a madeira e vendendo a preço de banana, o patrimônio do povo", relatou Arnaldo, que é engenheiro agrônomo e foi diretor-presidente da Companhia Riograndense de Saneamento (CORSAN).<br /><br />Para ele, as tragédias da Vale e da Samarco são somente a parte visível de uma "face perversa que é o atual modelo de mineração, com empresas privatizadas e multinacionais que visam apenas o lucro a qualquer custo, mesmo que isto signifique vidas humanas e destruição ambiental".<br /><br />Escrever o conto, para Arnaldo, foi como voltar no tempo e sentir-se na pele dos personagens. A história é narrada na terceira pessoa, com dois protagonistas: o sindicalista Zeca e o operador financeiro Paulo Alves. "Como escritor, ao final do conto, uma dose de alegria por poder propiciar aos que não viveram ou não entenderam à época, um breve relato sobre um dos dias mais tristes do País. Em apenas quatro minutos uma das maiores produtoras de minério do mundo foi vendida. Contar, como diz o mestre Alcy Cheuiche, sem raiva, sobre o conluio que entregou a Vale do Rio Doce por um valor 28 vezes menor do que o estimado à época".<br /><br />Após o rompimento da barragem de Mariana, Arnaldo Dutra, lembra que projetos de leis que pretendiam enrijecer a Política de Segurança de Barragens foram arquivados. "De sua parte o governo federal alardeia intenções de flexibilizar o licenciamento ambiental e reduzir atribuições do IBAMA". Para ele, o Congresso eleito recentemente, em contraposição ao governo, tem o dever de avançar e aprovar os projetos de leis comprometidos com a segurança das barragens e o cumprimento da legislação ambiental. "É fundamental o fortalecimento das instituições públicas de fiscalização, auditoria e monitoramento, bem como responsabilização, punição rigorosa aos envolvidos e reparação às famílias e à população atingida".<br /><br />A sucessão de fatos que culminou com mais um crime da Vale, entretanto, diz Arnaldo, começou bem antes, quando a empresa pública foi privatizada. "Hoje, não tenho dúvidas em afirmar que a lama que escorreu pelas encostas do município de Brumadinho e ceifou centenas de vidas, deu seus primeiros passos na Bolsa de Valores do Rio de Janeiro no dia 6 de maio de 1997."<br /><br /></p>
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